Candle out

Alguns talvez se lembrem de Harrison Ford, como o presidente-durão dos Estados Unidos em Air Force One, que se recusa a negociar com os terroristas que controlam o avião presidencial, onde estavam sua família e boa parte do seu
gabinete. Ele olha no olho o chefe dos bandidos, que exige a libertação de um malévolo general preso em Moscou, e diz “Não! Os Estados Unidos não negociam com terroristas!”

E por aí vai, até que o terrorista segura sua filha e ameaça matá-la. Desesperado, o presidente se rende, faz tudo que exigem, desde que deixem sua filha em paz.

Esse foi o momento em que ele deixou de agir como presidente e passou a agir como pai. Como presidente, sabia que negociar com terroristas é a garantia de que voltarão a atacar e exigir cada vez mais, o que tinha a responsabilidade de evitar. Como pai, nada o impediria de salvar sua filha, a quem tinha a insuperável missão de proteger.

No mundo real não é diferente.

Você pode se opor por princípio a sentenças duras – como a pena de morte –mas se o criminoso violentou sua netinha vai querer dar o tiro você mesmo. Esqueçam-se as razões que o levaram ao crime, a chance de reabilitação dos presos ou o direito que ninguém tem de tirar a vida do outro. Aquele fascínora precisa morrer!

Do mesmo modo, se seu filho fosse o autor de um crime terrível, você não seria pai/mãe se o abandonasse à própria sorte. Vai tentar mitigar as consequências da forma que puder, custear sua defesa e empenhar-se nela. Vai tentar salvá-lo
das consequências do que fez, não porque ele mereça, mas porque amor de pai/mãe é eterno, ilimitado e incondicional. Porque é seu filho e você o perdoará sempre.

Não é possível esperar objetividade, isenção ou defesa do interesse coletivo quando a vítima ou o autor de uma atrocidade é a uma pessoa que você ama. Ninguém é culpado por reagir assim. É natural e compreensível.

Hesitei em emitir uma opinião sobre a execução recente, na Indonésia, do brasileiro Marcos Archer, flagrado transportando 13kg de cocaína. Nunca o encontrei, mas conheço muitos de seus amigos, todos chocados com o triste
acontecimento e com compreensível dificuldade de analisar objetivamente a questão.

Desde 2007, por pressão popular, a rigorosa legislação penal da Indonésia, que pune com a morte o terrorismo, o homicídio e o tráfico de drogas, vem sendo aplicada com rigor. Em 2013 havia 133 pessoas condenadas à morte, 71 por tráfico, 60 por homicídio e 2 por terrorismo.

Abstraindo-se o aspecto moral da pena de morte e mesmo sem considerar o efeito que tais condenações possam ter na redução do comércio de drogas naquele país, a lei está lá e tem sido aplicada com rigor.

Não há como estimar o dano que 13 quilos de cocaína possam causar àqueles que voluntariamente – ao menos no primeiro uso – se valem da droga. Uma pessoa consciente não pode deixar de avaliar que a droga que vai transportar poderá resultar em mortes por overdose e sofrimento para as famílias dos viciados. Um brasileiro não precisa de muita imaginação para pensar em vítimas inocentes na guerra entre traficantes pelos mais rentáveis pontos de venda.

Marcos, evidentemente, havia superado essas considerações.

Mas havia ainda a questão do risco. Nenhuma pessoa que cogitasse em transportar drogas para a Indonésia poderia razoavelmente desconhecer o risco imenso a que estava se expondo. As condenações, execuções e a sistemática desconsideração pelo governo Indonésio de pedidos de clemência, são públicas e notórias.

Infelizmente, Marcos fez as escolhas erradas. Correu o grande risco, colheu o que semeou.

Isso não torna sua pena mais justa e proporcional, nem menos triste o seu fim.

Não se pode esperar dos seus amigos nada além da tristeza e irresignação com o lamentável destino de alguém para eles muito especial. Nossa solidariedade a todos aqueles familiares e amigos abalados por esse trágico desenlace.

Descanse em paz, Curumim!

Foto:  Mario Pinho, “Fantasma II”, Flickr, 5 Oct 2009, Creative Commons (BY).

Media-Manipulation-Optical-Illusion1

Uma imagem vale mesmo mil palavras? Na época em que os fatos cederam lugar à percepção, em que o que se vê pode não estar lá, ou pode estar recortado, montado ou photoshopado, talvez não…

A foto acima ilustra bem a questão. Vista por inteiro, é nítido o socorro dos soldados ao inimigo caído. Mas vista no recorte à esquerda, temos a ameaça armada a quem está no chão. Quem escolhe o que mostrar? Quem publica…

Com toda razão, o brasileiro está hoje muito indignado! O país não tem infraestrutura básica e torra milhões em projetos supérfluos, em detrimento de nossas maiores necessidades. Somos sobretaxados, desrespeitados e roubados diariamente pela corja que se apossou do país. A consequência natural é a frustração, o desejo de se rebelar contra o quadro de podridão em que se transformou a política nacional. O protesto está nas ruas e só o futuro dirá se isso fará diferença na vida nacional.

Mas além daqueles cidadãos esclarecidos que se reunem para protestar, bem como dos milhares que não têm idéia do que fazem nas ruas, há dois outros grupos em ação.

Um de criminosos comuns, que se prevalece da confusão para quebrar vidraças e roubar-lhes o conteúdo. É o mesmo que furta celular no bloco de carnaval, que saqueia caminhão virado. Para eles, é mais uma chance de faturar.

Outro, bem mais perigoso e escorregadio, é o que agita, convoca, incita, põe pilha, começa a confusão… e foge, deixando a multidão de inocentes úteis respirando o gás lacrimogêneo. É o que vandalisa, põe fogo, destrói o patrimônio privado e o público, envolvendo quem quer fazer seu legítimo protesto em algo de que nunca pretendeu participar.

A agenda dessa gente é muito escondida. São invariavelmente operadores de grupos políticos que vêem na comoção e no caos oportunidades de aumentar seu poder. De um lado, criam a confusão de que pessoas saem feridas, do outro, seus mandantes se solidarizam com as vítimas, responsabilizam inimigos políticos e conquistam votos com cínicas declarações de apoio ao protesto.

Esses são os deploráveis manipuladores da TrucuLente, um truque com as lentes para mostrar o que lhes convém.

Não há dúvida de que as forças policiais no Brasil precisam – e muito – de treinamento, para desempenhar corretamente sua missão vital, de ser a fina linha azul que separa o bem do mal, que serve e protege a sociedade e o cidadão. Esse despreparo resulta muitas vezes em excesso de força ou mesmo tragédia.

Mas não há nada mais fácil do que criar a oportunidade fotográfica que espalhe pelo mundo a noção falsa do uso arbitrário da violência pela polícia. Dois exemplos, ambos recentes.

Pimenta

Essa foto percorreu as redes sociais com estardalhaço, chocando milhares de pessoas de bem. Vê-se um policial paulista borrifando pimenta. Vê-se também um cinegrafista. Conclusão imediata: policial agredindo a imprensa. A grita é, compreensivelmente, geral.

Mas basta olhar com um pouco de cuidado que se vê nitidamente que o jato de pimenta passa ao lado do cinegrafista e está claramente dirigido a quem está atrás dele, com a mão inclusive apoiada no jornalista. Quem é o verdadeiro destinatário da pimenta? O que terá feito o policial lançá-la? A raiva estampada no rosto do policial é gratuita? É um animal enfurecido e descontrolado ou um exasperado agente da lei tentando conter um vândalo ou um agressor? Isso só sabe quem estava lá. Só quem viu a foto inteira.

Cena

Outra foto mereceu grande destaque na imprensa, em matéria sobre a distância recomendada para o uso de balas de borracha. Vê-se um grupo de policiais à esquerda, o primeiro deles com a arma apontada… para o chão. O dedo, corretamente fora do gatilho. Ao fundo, um grupo muito curioso, faz expressões de horror e desespero. Entre eles a única prova material da foto. Uma lixeira verde, arrancada de seu poste, produto do vandalismo que não hesita em causar dano ao patrimônio público.

Olhe bem para a foto. Você vê algo mais que esteja lá ou vê o que a matéria sugere que está lá?

Cena 2

Veja agora a foto por outro ângulo? O que há de concreto? Pois é, mais uma lixeira atirada ao chão, atrás dos policiais. E à esquerda, os fotógrafos. Percebeu o drama? Olha a foto-oportunidade criada para vender ao mundo a percepção de truculência.

A receita é fácil! Posicione seus fotógrafos, provoque o policial com insultos, afrontas, talvez arremessando umas pedras (ou lixeiras?), até que ele reaja. Simule pânico. Clique. Photoshop. Publique na Internet. Não quer risco? Mobilize um punhado de populares ignorantes e deixe a provocação e o risco com eles. As caras de pânico ficam muito mais convincentes do que as dos barbudos acima.

Infelizmente, sequelas da época militar em que as manifestações eram fortemente coibidas, aliadas à desconfiança que subsiste quanto à correção do trabalho policial, tendem a criar uma presunção de culpa que a polícia tem grande dificuldade em reverter. O que torna muito mais fácil a missão da TrucuLente…

Aqueles com um mínimo de informação sabem que os milhões de eleitores cujo sustento é provido pela esmola mensal que lhes compra o voto são suficientes para dificultar a depuração do poder público. Não sei até que ponto a mobilização da sociedade é capaz de superar essa barreira, mas é preciso tentar.

Mas o bom senso e a isenção que esperamos dos nossos representantes deve ser igual ao que empregamos ao examinar o material de desinformação a que somos expostos todos os dias.  Olho vivo!

Imagens da Internet, sem informações quanto a direitos autorais, reproduzidas em boa fé para fins de comentário. Para maiores informações visite nossa página de Copyright. Photoshop® é marca registrada de Adobe Corporation.

Shower

Chelyabinsk. Anotem esse nome. Essa pacata localidade da Sibéria foi atingida por um meteoro de 15 metros de diametro e umas 7.000 toneladas causando ferimentos em cerca de 1.000 pessoas, a maioria quando os vidros foram quebrados pela onda sônica gerada pela explosão. Mas Chelyabinsk trouxe consigo algo muito mais poderoso: um novo medo do desconhecido, daqueles que são vantajosamente explorados.

A superfície da Terra é de 510 milhões de quilômetros quadrados, 70% dos quais cobertos de água. A área máxima afetada por um meteoro desse porte corresponde a 0.038% desse total, ou seja, há uma chance em 13.5 bilhões de que algum lugar específico do planeta seja alvo de algo semelhante. Descontados os oceanos, essa chance cai para uma em 45 bilhões. Segundo os cientistas do Natural History Museum, em Londres, a probabilidade de um meteoro de 30-50 metros de diametro (o dobro do de Chelyabinsk, ou mais) cair na Terra é de um a cada mil anos, sendo que o último caiu há 55.000 anos. Acho que não precisamos de mais contas para concluir que esse risco é desprezível e, se comparado aos demais riscos que corremos – como andar de carro – virtualmente desaparece.

Mas se o risco é praticamente nenhum, o medo coletivo pode valer bilhões! Quem lembra do aquecimento global, que fez a fortuna das ONGs – órfãs do medo da guerra nuclear, que passou – que fomentaram o medo das geleiras derretidas (com ursinhos polares equilibrados no último fiapo de gelo) enquanto os oceanos inundariam as cidades? Verdadeiros mercadores da Arca de Nóe que vendiam o CO2 da irisória atividade industrial humana como a causa do fim do mundo… Quantos bilhões transacionados no mercado de créditos de carbono, quantos votos de eleitores assustados, quantas doações às ONGs salvadoras do planeta! Agora, como o ciclo de atividade solar chega ao fim, e com ele o aumento da temperatura, com mais chances dos ursos polares sentirem frio do que calor, a guinada estratégica redirecionou o medo para “mudanças climáticas”, expressão brilhante que atrai qualquer evento natural para as teorias apocalípticas dos beneficários desse pânico artificial.

RockE então?  Meteoros…  Cometas…  Asteróides…  Olha só o potencial disso para gerar um pânicozinho coletivo da melhor qualidade!

Começa, decerto, com mais um filminho. Na longa linha de “The End of the World” (1916), “End of the World” (1931), “When Worlds Collide” (1951), “The Day the Sky Exploded” (1958), “A Fire in the Sky” (1978), “Meteor” (1979), “Asteroid” (1997), “Armageddon” e “Deep Impact” (1998),  “Judgment Day” (1999), “Post Impact” (2004), “Anna’s Storm” e “The Apocalypse” (2007), “Impact” e “Meteor Apocalypse” (2009), “Melancholia” (2011), e mesmo a comédia romântica “Seeking a Friend for the End of the World” (2012), virá sem dúvida por aí, aproveitando o gancho de Chelyabinsk e na melhor tradição do cinema catástrofe, uma nova versão para as telas da aniquilação vinda do espaço.

Em seguida, a imprensa – alimentada por cientistas-de-aluguel – começa a veicular projeções dramáticas das hecatombes provocadas por asteróides e as órbitas recalculadas, concluindo pela inevitabilidade de que – dentre os milhões de planetas espaço a fora – eles virão a bater exatamente aqui. Não já, senão a festa dura pouco, mas em alguns anos. Isso vai ou não vender muito jornal?

Aí, vamos lá: quem está melhor qualificado para produzir os mísseis e foguetes que poderão alterar, na undécima hora, o curso dessas ameaças espaciais, salvando-nos todos? A indústria bélica, talvez?  Quantos bilhões isso vai custar? E a tecnologia para monitorar o espaço e detectar a tempo o perigo? A miséria de alguns vai ter que esperar, a sobrevivência da espécie o exige! Quem vai salvar nossas almas, diante do inevitável juízo final que se avisinha? Qual das igrejas de oportunidade venderá essa salvação? Votaremos em quem não estiver comprometido com a Defesa da Humanidade? Ou em quem não alocar verbas para construção de abrigos por todo o país? Quem vai exigir dos governantes essas verbas e medidas para preservar o planeta? E que, para tanto, arrecadará milhões em doações de gente assustada? Talvez as ONGs do medo ambiental que vai se dissipando? Como será que vão batizar esse medo? Devastação Global? Aniquilação Meteórica? Olha só que nicho espetacular!

Ou então não. O susto passa e eles pensam num medo melhor para nos vender.

Fotos: David Reneke, “Shower”, do blog “David Reneke’s World of Space and Astronomy”, sem indicação de direitos; Amanda Bauer, “951gaspra”, do blog “Astropixie”, sem indicação de direitos.

Nannies

O recente debate deflagrado pela recusa de dois clubes cariocas em admitir – exceto na condição de convidadas – babás não uniformizadas, trás questões subjacentes em nada relacionadas com a sensata determinação dessas entidades, mera política de controle de acesso a instalações de capacidade limitada. No Brasil de hoje, em que relevante parcela da população de baixa renda depende para sua sobrevivência do trabalho doméstico, certos grupos parecem determinados a depreciar esse importante serviço, atribuindo-lhe conotações de inferioridade e denegrindo-lhe as funções.

Mary Poppins2Sucessoras das governantas que nossos pais aprenderam a respeitar e admirar, as babás são investidas de uma responsabilidade difícil de superar. A elas confiamos a guarda daqueles a quem mais amamos: nossos filhos. Mesmo sem o glamour das governantas romanceadas em Mary Poppins e na Noviça Rebelde, inúmeros são os casos de genuína afeição das famílias por essas mulheres, que devotam muitos anos de zelo e carinho aos pequenos que lhes são confiados. Foi com muita emoção que abracei, em meu casamento, a querida babá de cujos cuidados havia desfrutado na infância, que permaneceu ligada à nossa família por toda a vida.

Se poucas missões podem ser tão nobres, com que propósito se empenham tais pessoas em destruir a auto-estima dessas mulheres, descrevendo de maneira tão depreciativa sua profissão? Muitos são os casos de babás – e outros funcionários domésticos – que deixaram o emprego seguro e confortável, a proteção e a generosidade de famílias decentes e responsáveis, somente para perderem a designação profissional de “doméstica”, que alguns insistem em rotular de sub-humana ou degradante. Várias dessas pessoas trabalham hoje, ganhando menos, em funções que requerem menor qualificação, enquanto famílias que lhes poderiam oferecer um emprego responsável, gratificante e honesto, se vêem privadas de sua útil contribuição.

GariO ataque ao uniforme profissional das babás está intimamente ligado à depreciação indevida do serviço doméstico. Uniformes em si são motivo de honra para os que têm orgulho de sua condição. Como são justamente orgulhosos os nossos garis, em seus uniformes prudentemente alaranjados! Como eles, o soldado, a enfermeira, o bombeiro, o guarda-vidas… Quantos, na infância, não sonharam em vestir um dia o uniforme do piloto comercial, a farda das forças especiais ou o macacão de um piloto de provas? O médico deve envergonhar-se do seu jaleco? O cozinheiro do avental e chapéu? O que dizer dos garçons, marinheiros, ou de qualquer funcionário que, literalmente, veste a camisa da sua empresa? Do sacerdote, com sua batina? De meus filhos que, como eu, frequentaram uniformizados a escola?

ChefO funcionário uniformizado preserva suas próprias roupas para uso pessoal e está adequadamente trajado para as funções que desempenha. O uniforme o identifica, distingue, demonstra que pertence a um grupo. O funcionário que tem orgulho do que faz, experimenta a gratificante sensação de ser útil, produtivo e depositário do respeito e confiança de seu empregador.

Não há qualquer razão pela qual o serviço doméstico deva ser considerado humilhante ou inferior. Não estão na roupa que vestimos ou na função que desempenhamos as marcas de nossa estatura como seres humanos. Muitos há – Brasília vem à mente – que desfilam em ternos caríssimos e ocupam posições exaltadas, sem que isso esconda a mediocridade dos seus valores e a inferioridade de suas condutas.

Salve a babá, em seu orgulhoso uniforme, e a família que a ela confia o cuidado de seus pequenos filhos! São válidos os esforços para melhorar as condições de trabalho dos mais humildes, mas chega do proselitismo dos instigadores da insatisfação social.

Fotos: “Norland College” © Adam Gray; “Mary Poppins” © Disney/CML; “Chef”, sem informação sobre direitos; “Renato Sorriso”.  Images from the Internet used under fair use provisions for commentary or criticism of US Trademark Law.

A fumaça escura da descarga de velhas Kombis e caminhões se dissipa por entre frutas e legumes. No ar, o desagradável cheiro de peixe que só desaparecerá em dois dias. No asfalto sujo, ratos alados (asquerosos vetores de moléstias graves, mais conhecidos como pombos) disputam migalhas com cães viralatas, hospedeiros de pulgas e outras coceiras. O lixo onipresente, de frutas passadas, cascas, caroços e folhas murchas, atrai enxames de moscas e baratas. Do gelo derretido, cachoeiras de água de peixe impregnam as calçadas, por entre caixotes quebrados e embrulhos de jornal. Aos gritos monocórdios, das barracas improvisadas, vendedores suados apregoam sua mercadoria, enquanto mendigos prostrados aguardam a xêpa e pivetes disputam as bolsas da clientela.

Se alguém não reconheceu a descrição, trata-se de um dos maiores contrasensos do século XXI, a deplorável “feira livre”.

Toda quarta-feira, esse antro móvel de insalubridade se instala no sopé da rua onde moro, interrompendo por horas o trânsito, obrigando-nos a uma longa volta para acessar a rua principal, atulhando as calçadas. A lavagem que se segue, pelos bravos garis da limpeza urbana, é totalmente ineficaz para anular o fedor que atormentará até sexta moradores e transeuntes. E quarta que vem tem mais…

Longe do charme e frescor dos mercados provençais, as feiras urbanas são um transtorno desnecessário e um risco considerável à saúde pública. Nosso pesadelo semanal fica a 500 metros da Cobal do Humaitá, um mercado coberto, limpo e variado, aberto diariamente, com luz, refrigeração e estacionamento, fiscalizado pela vigilância sanitária com o rigor de que as feiras são poupadas.

Contrariando a lenda sedimentada pela repetição, no que pesem as despesas operacionais inferiores, o custo das mercadorias nas feiras livres é equivalente ou, em casos, superior, às vendidas nos hortomercados próximos. A diferença está na absoluta ausência de higiene e no transtorno à população.

Luta inglória a de quem tenta livrar-se das feiras livres. A liberdade que o nome sugere é toda delas! Ao menor sinal de perigo, acorrem meia dúzia de vereadores e deputados – a quem a sujeira não causa espécie – de olho nos votos dos barraqueiros e daqueles que, por hábito arraigado, arrastam seus carrinhos enferrujados pelo nojento comércio de rua.

Até quando a letargia do Poder Público, que sufoca com tributos e burocracia qualquer empresário organizado, imporá à população essa perigosa e desnecessária porcaria?

Fotos: Aventoe, “Cheiro Livre”, 18 Apr 2012, Creative Commons (BY-NC-SA); Luis Fernando Gallo, “Sujeira da Feira Livre no Belenzinho”, Blog do Milton Jung, Flickr, 26 Nov 2009, Creative Commons (BY); Foto: Juliano Rocha, “Feira Livre – 29 de março”, Flickr, 19 Nov 2006, Creative Commons (BY-NC)


Tem gente que fala, tem gente que grita. Alguns fecham a porta, outros batem. Uns arrumam, outros bagunçam. Há quem só consiga falar de si mesmo, há quem se disponha a ouvir. Sentir-se alegre com as vitórias dos amigos ou roer-se de inveja. Ser gentil ou grosseiro, sobretudo com os mais humildes. Prestigiar ou ignorar quem está por baixo. Agir com responsabilidade ou deixar pra lá. Lutar e crescer ou estacionar e desaparecer.

Numa época de valorização da individualidade e da diversidade cultural, hesitamos em condenar comportamentos inadequados ou mesquinhos, justificando cada atitude (ou falta dela) com base em variáveis como oportunidade, formação, circunstâncias pessoais, falta de exemplo, natureza humana e tantas outras.

Até certo ponto, é inegável que esses fatores externos podem afetar o comportamento e a postura social de cada um de nós.  No cotidiano, porém, nos surgem frequentes exemplos de pessoas que, contrariando todas as probabilidades, superam as desvantagens com que a vida lhes onerou e se transformam em indivíduos extraordinários, do bem, esforçados e produtivos, cujas existências nos surpreendem, impressionam e gratificam, cujo exemplo influencia e modifica vidas.

Terão essas admiráveis pessoas nascido com uma força interior diferente, excepcional, não disponível a quem se arrasta pela vida? Há decerto uma carga genética, a variável da inteligência e aspectos de personalidade que a psicologia ainda engatinha em entender. Mas os exemplos se seguem, de gente simples, de origem miserável, exposta às necessidades e violência, sem uma chance sequer… e que, mesmo assim, constrói uma vida digna, útil e ordeira, constitui família e se responsabiliza por ela, dá do seu melhor e faz diferença.

Qual terá sido o tipping point dessa gente? O que os terá feito acreditar que suas vidas poderiam mudar, que dentro de suas humildes existências haveria espaço para crescer, sonhar e realizar? Uma palavra, um momento ou a chama de uma fé que acendeu um estreito e pedregoso caminho explicarão a perseverança individual, em condições tão desfavoráveis, diante dos imensos desafios da vida? A gente é realmente como a gente é?

Você que fala alto, já tentou baixar a voz? O batedor de portas considerou encostá-las? Se quiser arrumar aquela gaveta (agora mesmo!), você consegue vencer a preguiça e o desleixo? Na sua próxima conversa, poderá ouvir o que lhe dizem, sem ansiar pela brecha que lhe permita falar sobre si? É capaz de sentir-se feliz pelas alegrias de alguém? Custa-lhe ser gentil com quem não pode retrucar? Abraçar o amigo no infortúnio, com o mesmo carinho dos bons tempos?

A gente é, na verdade, quem a gente consegue ser. E para conseguir, é preciso tentar…

Foto: Andrew Chipley, “Man struggles with cart”, Flickr, 6 Mar 2008, Creative Commons (BY-NC-ND)

A árvore da Lagoa se acende (reacendendo a polêmica em torno de sua existência, e mais outra quanto ao benefício fiscal da patrocinadora… vamos combinar que esse povo adora uma polêmica!) e com ela (a árvore e não a polêmica) a espantosa conclusão de que lá se vai mais um ano. Repitam em coro: “Como passou depressa!”

Quem fez fez, quem não fez vai ter que correr, mas é claro que sempre tem o ano que vem…

Nosso Blog, ao contrário das intenções, muito pouco fez em 2011. Fotos de Aventoe, prometidas com alarde em Natais passados, menos ainda! Mas está na ausência de prazo, na falta de obrigação, no doce deleite de fazer se e quando dá vontade, uma das maiores alegrias do blogueiro. A outra, evidentemente, é o prazer de saber lidas algumas das linhas que deu vontade traçar.

A vocês então, Leitores generosos das ocasionais linhas que a vontade e o tempo me permitiram escrever neste ano, minha gratidão. Tal como a existência perene-enquanto-dure do Blog, imorredoura a gratidão aos que me prestigiam com suas importante visitas.

Um Natal de muita paz, saúde e harmonia. Sonhos bonitos para 2012 e entusiasmo para persegui-los!

Abraços de Aventoe!

Foto: Rachel Patterson, no title, Flickr, 7 Dec 2009, Creative Commons (BY-NC-ND)

Existe um certo consenso de que há duas organizações públicas que funcionam bem no Rio de Janeiro, a Comlurb e o Corpo de Bombeiros.  Acrescento à lista, em vista do recente progresso na área da segurança pública, a Polícia Militar, ou pelo menos uma parte dela. No que pese o insucesso que tive na única vez em que precisei recorrer aos bombeiros, já relatado no Blog, cresci admirando os soldados do fogo, que arriscam suas vidas para nos salvar.

Sua missão é fundamental, fazendo-se presentes desde o mais simples atendimento médico nas ruas, passando pelo salvamento de afogados e combate a incêndios, até a localização e resgate das vítimas de acidentes aéreos ou catástrofes naturais. É obrigação do Poder Público certificar-se que estejam disponíveis, treinados, equipados e motivados para desempenhar com eficiência sua indispensável tarefa.

A julgar pelas informações recentemente veiculadas na imprensa, o Governo do Estado do Rio de Janeiro, apesar da elevada arrecadação – inclusive a gerada pela Taxa de Incêndio – tem negligenciado os bombeiros, cuja remuneração é das mais baixas para a atividade no País.

Esse descaso inaceitável resulta em sofrimento para suas famílias e intranquilidade para os profissionais, incompatíveis com o nível de dedicação que deles se espera.

Infelizmente, vigora no Brasil a deplorável noção, oriunda do baixo sindicalismo instalado no País, de que para reivindicar melhorias é necessário atormentar a vida do cidadão. Fonte dos recursos geridos pelo Poder Público mas desprovida de grande ingerência na sua aplicação, vê-se a população submetida a colossais engarrafamentos de trânsito, que lhe retardam injustificadamente o regresso ao lar, porque determinada categoria resolveu marchar pela Avenida Rio Branco na hora do rush. O pleito dos manifestantes pode ser justo, a inconveniência que causa jamais será.

Foi assim que, por diversas vezes, os bombeiros cariocas infernizaram o trânsito do Centro para atrair atenção à sua causa. Não é decerto a melhor forma de assegurar-se do apoio da população.

Como sabe cada candidato antes de ingressar na corporação, ao tornar-se bombeiro estará adotando uma carreira nobre, essencial e militar. A nobreza está no risco que voluntariamente assume em prol da vida da população a que serve. A essencialidade da função lhe retira a faculdade de interromper ou reduzir, por qualquer razão, a prestação do indispensável serviço, cuja falta poderá resultar em mortes. A natureza militar o submete, dentro dos limites da Lei, ao cumprimento de ordens.

Assim, não importa quão desesperada a causa, não pode haver posto de salvamento sem guarda-vidas, caminhão de bombeiros sem guarnição ou ambulância sem médico. Não é opcional, não depende do valor da remuneração ou dos benefícios. Ninguém é obrigado a ser bombeiro mas, enquanto o for, a omissão não é uma alternativa.

A natureza da corporação tem raízes históricas. Em princípio, a função de bombeiro – tal como a de controlador do tráfego aéreo – não depende de uma estrutura militar. No primeiro mundo, bombeiros e controladores, quando não são voluntários, são invariavelmente civis. A limitação de recursos à época da criação dos serviços resultou em que fossem eles literalmente pendurados na estrutura militar. Como se pendurou hoje na Comlurb a poda de árvores na via pública.

A consequência, no entanto, é que numa organização militar o respeito à hierarquia e o cumprimento de ordens, nos limites legais, não estão sujeitos a condicionantes ou circunstâncias.

Assim, ao ocuparem um quartel e recusarem-se a obedecer ordens, 439 bombeiros não se tornaram heróis. Tornaram-se insubordinados, quiçá amotinados. Mesmo em tempo de paz, isso pode bem resultar em expulsão da corporação, ao menos daqueles que se comprove terem agido de livre vontade, deliberadamente. Uma pena!

A população, que depende de bons bombeiros para sua segurança, deve mobilizar-se para que a carreira seja valorizada, dando tranquilidade a profissionais tão indispensáveis e suas famílias.

Os bombeiros, como as outras categorias com legítimas reivindicações, precisam aprender que não será jamais criando inconveniência para a população, negligenciando suas funções ou descumprindo a lei, que irão conquistar o apoio da comunidade.

Fotos: Juliana S., “E no meio do caminho tinha um hidrante“, Flickr, 26 Apr 2007, Creative Commons (BY-NC-SA); Carlos Trindade Conceição, “Bombeiros“, Flickr, 11 Jun 2011, Creative Commons (BY-NC-SA); Christopher Reilly, “Fireman“, Flickr, 1 Mar 2010, Creative Commons (BY) [editada].

Presenciei ontem, pela enésima vez, uma cena deplorável. Parado no sinal, ao lado de um táxi, começo a ouvir a detestável buzininha de uma motocicleta. Bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi… O irritante barulho, que o desleixo do Poder Público incorporou à já carregada trilha sonora dos centros urbanos, prenuncia a chegada iminente dos donos da rua.

Como quase todo cavaleiro de duas rodas nacional, esse infeliz julga-se detentor de incontestável direito de passagem entre as já arranhadas pinturas dos automóveis, que aguardam pacientemente sua oportunidade de transitar.

Parados estávamos, parados continuamos, não por opção, mas por falta dela. Frustrado no que considera sua prerrogativa de trânsito livre, resolveu o ansioso cowboy do asfalto passar assim mesmo. E veio, quase raspando, até que, já livre para voar até o próximo gargalo, deliberou punir o táxi que involuntariamente lhe obstara a passagem, deslocando-lhe com um golpe de cotovelo o espelho retrovisor. Que ficou pendurado, balançando…

Não era um motoboy ignorante, apressado para entregar no prazo a pizza ou a encomenda. Era uma bela e barulhenta moto BMW, de 1200 cilindradas. Era alguém cujo investimento em transporte sugeria, ao menos, a oportunidade de se educar, de saber melhor.

Quem já dirigiu pelo primeiro mundo testemunhou a civilizada presença de motocicletas, trafegando como todos nas faixas de rolamento. Gente que tem prazer no contato mais próximo com o ambiente, não se incomoda com o vento e a chuva, gasta menos com combustível e estaciona mais fácil. Que respeita automóveis e pedestres e é por eles respeitado.

Morrem no Rio de Janeiro, a cada dia, ao menos dois motociclistas. Uma estatística triste, que resulta preponderantemente da inconsequência das próprias vítimas e da omissão das autoridades, que fingem não perceber a bagunça que corre solta.

Não quero entrar no debate quanto à segurança da motocicleta, ainda que me pareça evidente a fragilidade do veículo cujo parachoque é a testa do condutor. Morre-se muito de carro também. Mas há muito mais consciência dos perigos da direção perigosa de automóveis, enquanto motociclistas se matam sem parar, com pouco ou nenhum esforço governamental quanto ao problema.

De qualquer modo, a opção por veículo mais ou menos perigoso, ou pela direção mais ou menos responsável, é do motorista. Automóveis no Rio são multados à toa. Motos estão totalmente sem controle.

Mas sabe como é: motoqueiro vota, e protesta em bando. Coisa que político brasileiro não acha que é pago para enfrentar. Mais fácil multar o infeliz que transita a caminho da oficina sem o retrovisor que um motoqueiro arrebentou…

Em São Paulo, o quadro é mais caótico. O motorista que não andar colado ao meio fio, para assegurar às motos um amplo corredor preferencial, é vítima certa de dano deliberado. E se alcançar o criminoso – porque destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia por motivo egoístico é crime de dano qualificado, segundo o art. 163 do Código Penal – será imediatamente cercado pela solidária turba de motociclistas. Aí passamos a outro artigo, mais violento, do Código Penal…

Veículo por excelência para o assalto ou assassinato, o uso da motocicleta para transporte de passageiro – o popular garupa – vem sendo proibido em várias jurisdições, até mesmo na vizinha Colombia, onde era instrumento letal do narcotráfico. A passagem corriqueira de motociclistas entre os carros é garantia de que a vítima será surpreendida. Não fosse o risco ao próprio e ao patrimônio de terceiros, a segurança coletiva exigiria por si só o fim da prática.

Nada do que escrevi é novidade. Todo mundo sabe, a maioria se acomoda, o governo finge que não vê, e o abuso continua. Quantos mais motociclistas terão que morrer, quantos carros serem danificados, quantos assaltos ou homicídios de moto, até que algo seja feito?

Fotos: David DeHetre, “bmw r75”, Flicker, 28 Aug 2010, Creative Commons (BY); Milton Jung, “Moto estaciona na 23 de Maio”, Flickr, 5 Dec 2009, Creative Commons (BY); Cleidomar Barbosa Antunes, “Acidente 032”, Flickr, 20 Oct 2009, Creative Commons (BY-NC-SA); Bruno Souza Soares, “Mototaxista bate em caminhão e morre”, Flickr, 4 Feb 2010, Creative Commons (BY-NC-SA); Roberto Corralo, “La Fuga”, Flickr, 30 Apr 2009, Creative Commons (BY-NC-SA).

A sociedade brasileira está, como todas, em constante mudança. Não necessariamente evolução, que sugere aprimoramento, mas experimenta sem dúvida alterações de comportamento relevantes.

Não há mudança sem pressão e não há resistência sem empenho. Assim é que o esforço de meia dúzia de determinados triunfa invariavelmente sobre a inércia de multidões. É o “quem não chora não mama” levado à última consequência.

Sob a multicolor bandeira do arco-íris, uma verdadeira cruzada conquistou importante vitória para os casais homossexuais. Anos de paradas e passeatas, shows, ações de mídia, lobby de deputados e senadores, pressão nas galerias e, lamentavelmente, patrulhamento ostensivo das vozes dissidentes, culminaram no reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal da validade da união estável entre pessoas do mesmo sexo.

Nada a opor a que sejam todos felizes, cada um à sua maneira. Questões difíceis, contudo, quanto à adoção de crianças por esses casais. Despropositada a distribuição de cartilhas nas escolas sugerindo a homossexualidade, não como orientação a ser respeitada, mas como saudável e natural alternativa. Mas não é disso que trata o post.

No embalo dessa inegável conquista, erguem-se agora as demagógicas vozes da politicalha nacional, buscando perpetrar um dos mais violentos golpes contra as liberdades individuais.

Sob o pomposo epíteto de “criminalização da homofobia”, pretende essa hoste de pseudo defensores dos direitos civis, impor limites à liberdade de expressão, num grau de fazer inveja à junta militar de Myanmar.

Não há meio termo aqui. Cada um de nós tem o direito inalienável de pensar como quiser e dizer o que pensa. Seja o que for. Por mais absurdo, desagradável, ofensivo mesmo.

Frases como “blogueiros só escrevem besteira”, “todos os políticos são corruptos”, “mulheres ao volante, perigo constante” ou (parodiando o Príncipe de Gales) “a contribuição da Luftwaffe para a silhueta de Londres foi menos danosa que a dos arquitetos – afinal, os bombardeios só deixavam entulho”, podem não ser 100% verdade – ao menos quanto aos blogueiros – mas são a expressão do mais sagrado direito em uma sociedade democrática: o de expressar com absoluta liberdade as suas opiniões, por mais controvertidas e impopulares.

Os leitores do Blog conhecem a opinião de Aventoe sobre a legalização das drogas. Sem prejuízo dela, é absolutamente intolerável que se proibam manifestações em seu favor, como a “Marcha da Maconha”. É direito inquestionável dos defensores da idéia lutar pelo que acreditam; cassar-lhes a palavra é tão abusivo e grave quanto proibir o discurso contra as drogas. O que não quer de modo algum dizer que o consumo de drogas pelos manifestantes não deva ser reprimido na forma da Lei.

Assim é que, onde as liberdades civis são levadas a sério, manifestações públicas de qualquer natureza – observadas as regras que asseguram a segurança pública e minimizam a inconveniência à comunidade – são não apenas livres, como contam com proteção policial.

Não se confunda o direito de dizer o que se pensa com liberdade para agredir, incitar contra, ou violar direitos de terceiros.

Quando o MST clama pela divisão da terra alheia entre seus integrantes, exerce o legítimo direito de se expressar. Quando invade propriedade privada, comete um crime somente menor do que o administrador público que não o impede.

Não se pode respaldar nas conquistas sociais a tolerância à conduta ilegal, imoral ou inadequada. Hoje, os excessos de um casal de namorados, ao fazer em público o que lhes é assegurado na intimidade, pode perfeitamente receber uma reprimenda – exceto se o casal em questão for homossexual, quando a legítima advertência adquire como por mágica conotação homofóbica. É a absurda e injustificada exclusão de determinado grupo ou categoria das regras elementares do convívio social.

A resposta democrática ao discurso que nos desagrada será sempre ignorar o orador ou discursar de volta, esmagando com sólidos argumentos a tese que nos repugna. O que se pretende ao criminalizar opiniões ou o direito de manifestá-las é a consolidação por uma agressiva categoria militante de prerrogativa inconstitucional em seu favor.

Poucas questões mais absurdas que cogitar se deve haver uma exceção à proibição de discursos “homofóbicos” para ministros religiosos. A liberdade de expressão é universal e incondicional. O dia que uma lei puder nos impedir de proferir uma palavra sequer, todas as demais estarão a perigo.

E a maioria silenciosa, acomodada, terá abdicado do direito de falar.

Fotos: JustUptown, “What me worry?”, Flickr, 19 Dec 2007, Creative Commons (BY-ND); Foto: Alexandre Ferreira, “13º parada do orgulho LGBT de São Paulo”, Flickr, 14 Jun 2009, Creative Commons (BY-NC-SA); Foto: Cristiano Maia, “Pride London 2009”, Flickr, 4 Jul 2009, Creative Commons (BY-NC).

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Topo: Foto: Matteo Ianeselli, “Folgaria - panoramic view of Carbonare”, Wikimedia Commons, 18 July 2010, Creative Commons BY-SA 3.0 Unported &  GNU Free Documentation License, Version 1.2 or later. Widget: Benvindo! Foto: Jimmy Joe, “Welcome!”, Flickr, 19 May 2007, Creative Commons (BY). Aventoe em Inglês: Foto: Rob Friesel/Found Drama, “Lake Champlain Sunset” (editada), Flickr, 23 Nov 2006, Creative Commons (BY-NC-SA), usada no cabeçalho de “Keyboard Times”, um blog de Aventoe.

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