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Presenciei ontem, pela enésima vez, uma cena deplorável. Parado no sinal, ao lado de um táxi, começo a ouvir a detestável buzininha de uma motocicleta. Bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi-bi… O irritante barulho, que o desleixo do Poder Público incorporou à já carregada trilha sonora dos centros urbanos, prenuncia a chegada iminente dos donos da rua.

Como quase todo cavaleiro de duas rodas nacional, esse infeliz julga-se detentor de incontestável direito de passagem entre as já arranhadas pinturas dos automóveis, que aguardam pacientemente sua oportunidade de transitar.

Parados estávamos, parados continuamos, não por opção, mas por falta dela. Frustrado no que considera sua prerrogativa de trânsito livre, resolveu o ansioso cowboy do asfalto passar assim mesmo. E veio, quase raspando, até que, já livre para voar até o próximo gargalo, deliberou punir o táxi que involuntariamente lhe obstara a passagem, deslocando-lhe com um golpe de cotovelo o espelho retrovisor. Que ficou pendurado, balançando…

Não era um motoboy ignorante, apressado para entregar no prazo a pizza ou a encomenda. Era uma bela e barulhenta moto BMW, de 1200 cilindradas. Era alguém cujo investimento em transporte sugeria, ao menos, a oportunidade de se educar, de saber melhor.

Quem já dirigiu pelo primeiro mundo testemunhou a civilizada presença de motocicletas, trafegando como todos nas faixas de rolamento. Gente que tem prazer no contato mais próximo com o ambiente, não se incomoda com o vento e a chuva, gasta menos com combustível e estaciona mais fácil. Que respeita automóveis e pedestres e é por eles respeitado.

Morrem no Rio de Janeiro, a cada dia, ao menos dois motociclistas. Uma estatística triste, que resulta preponderantemente da inconsequência das próprias vítimas e da omissão das autoridades, que fingem não perceber a bagunça que corre solta.

Não quero entrar no debate quanto à segurança da motocicleta, ainda que me pareça evidente a fragilidade do veículo cujo parachoque é a testa do condutor. Morre-se muito de carro também. Mas há muito mais consciência dos perigos da direção perigosa de automóveis, enquanto motociclistas se matam sem parar, com pouco ou nenhum esforço governamental quanto ao problema.

De qualquer modo, a opção por veículo mais ou menos perigoso, ou pela direção mais ou menos responsável, é do motorista. Automóveis no Rio são multados à toa. Motos estão totalmente sem controle.

Mas sabe como é: motoqueiro vota, e protesta em bando. Coisa que político brasileiro não acha que é pago para enfrentar. Mais fácil multar o infeliz que transita a caminho da oficina sem o retrovisor que um motoqueiro arrebentou…

Em São Paulo, o quadro é mais caótico. O motorista que não andar colado ao meio fio, para assegurar às motos um amplo corredor preferencial, é vítima certa de dano deliberado. E se alcançar o criminoso – porque destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia por motivo egoístico é crime de dano qualificado, segundo o art. 163 do Código Penal – será imediatamente cercado pela solidária turba de motociclistas. Aí passamos a outro artigo, mais violento, do Código Penal…

Veículo por excelência para o assalto ou assassinato, o uso da motocicleta para transporte de passageiro – o popular garupa – vem sendo proibido em várias jurisdições, até mesmo na vizinha Colombia, onde era instrumento letal do narcotráfico. A passagem corriqueira de motociclistas entre os carros é garantia de que a vítima será surpreendida. Não fosse o risco ao próprio e ao patrimônio de terceiros, a segurança coletiva exigiria por si só o fim da prática.

Nada do que escrevi é novidade. Todo mundo sabe, a maioria se acomoda, o governo finge que não vê, e o abuso continua. Quantos mais motociclistas terão que morrer, quantos carros serem danificados, quantos assaltos ou homicídios de moto, até que algo seja feito?

Fotos: David DeHetre, “bmw r75”, Flicker, 28 Aug 2010, Creative Commons (BY); Milton Jung, “Moto estaciona na 23 de Maio”, Flickr, 5 Dec 2009, Creative Commons (BY); Cleidomar Barbosa Antunes, “Acidente 032”, Flickr, 20 Oct 2009, Creative Commons (BY-NC-SA); Bruno Souza Soares, “Mototaxista bate em caminhão e morre”, Flickr, 4 Feb 2010, Creative Commons (BY-NC-SA); Roberto Corralo, “La Fuga”, Flickr, 30 Apr 2009, Creative Commons (BY-NC-SA).

Entre o trânsito intenso, a falta de estacionamento, a chuva e a lei seca, cada vez mais os cariocas passam a depender do táxi para seus deslocamentos pela cidade. A recente profusão de cooperativas, que atendem por telefone ou pela Internet, bem como de pontos organizados, facilitou o acesso aos passageiros, sobretudo os de localidades mais remotas. Mas nem tudo são flores para o candidato a passageiro de táxi, e há muitas lições a tirar da experiência de outros países.

Uma das grandes dificuldades do passageiro está em verificar se o táxi que se aproxima está ou não livre. O uso indiscriminado de filmes escuros nos vidros (que prejudicam perigosamente a visibilidade, sem oferecer nenhuma segurança adicional) impede o passageiro de ver o interior do veículo. O descaso dos motoristas, que não apagam o letreiro luminoso do teto quando estão ocupados ou decidiram parar de trabalhar, nos força a sinalizar para todos os táxis que se aproximam. Que canseira!

Na foto o letreiro dos táxis alemães, muito visível e somente aceso quando o carro está livre.

A falta de padronização dos veículos transforma a escolha do táxi num exercício de sorte e resignação. Passageiros pernaltas, como eu, sonham com o dia em que o Poder Público fará a opção por um carro fabricado com o propósito específico de ser táxi, como ocorre no Reino Unido. É claro que a suspensão terá que ser adaptada às nossas crateras…

O espaçoso e seguro London Cab, como tudo já copiado na China, transporta com conforto quatro passageiros (inclusive com cadeira de rodas), além de um volume razoável de bagagem, tem portas largas e teto alto, a cabine do motorista é separada da dos passageiros, é inconfundível nas ruas e projetado de modo a minimizar lesões em caso de atropelamento. O jogo de direção permite retornar em espaço muito pequeno, facilidade incorporada em 1834, para permitir-lhes o acesso à estreita porte-cochère do Hotel Savoy, no elegante West End de Londres, na única rua londrina com mão de direção à direita.

Genial a solução dos suíços para a posição do taxímetro. Nada de esconder no painel, atrás do encosto do banco da frente. As informações são projetadas de forma muito viva no espelho retrovisor central, visível de todo o interior do veículo.

Quando há separação de cabines, como na Inglaterra, o taxímetro fica junto ao vidro separador, com mostradores separados para os passageiros e o motorista.

Tendência que começa a chegar ao Rio, as frotas são equipadas com sistema de GPS, que mostra à central a posição exata de cada carro disponível, impedindo a deplorável escolha pelos motoristas das corridas mais lucrativas, em detrimento dos passageiros com destinos próximos. O sistema permite ainda a transmissão dos chamados por mensagem de texto, sem a necessidade de utilizar os barulhentos rádios ou celulares, de resto proibidos ao volante.

Tecnologia e sofisticação à parte, restam aos usuários dos táxis cariocas dois grandes problemas.

A depuração dos motoristas, eliminando os ineptos e os rotineiramente desonestos, é essencial para que se chegue a um serviço de qualidade compatível com as olímpicas aspirações do Rio de Janeiro a relevante destino turístico mundial.

Mas falta também que o Poder Público, em lugar de perseguir – oficial e oficiosamente – os taxistas, com saraivadas de vistorias e multas de fundamento confuso e custo incompatível com seus rendimentos, cujo único propósito é arrecadar, os informe de forma clara e incontroversa o que podem ou não fazer, onde podem ou não pegar passageiros, as regras do jogo enfim. A receita de multas vai cair, mas o serviço certamente vai melhorar.

Fotos: Al Fred, “Taxi”, Flickr, 22 Nov 2008, Creative Commons (BY-NC, ND); Andrew Scott, “London Cab”, Flickr, 23 Jun 2007, Creative Commons (BY-NC-SA); Julian Bleecker, “Taxi Meter”, Flickr, 2 Feb 2006, Creative Commons (BY-NC-ND); Andy Bullock, “A Shark”, Flickr, 25 Jun 2009, Creative Commons (BY).

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